Esta verídica tragédia familiar mostra como um conflito não tratado pode levar uma empresa à ruína. Pode desenrolar a força destrutiva de uma bola de neve que se transforma numa avalanche. Uma mediação de conflito poderia ter evitado o desastre. Este é o tema do atual artigo da coluna de Silke Buss sobre mediação na Vida Económica. Saiu no dia 27 de maio de 2022.
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Coluna sobre Mediação de Conflitos – n.º 11
Por Silke Buss, Mediadora de Conflitos, Especialista em Comunicação
Prevenção e Mediação de conflitos
Como um conflito familiar deitou abaixo uma oficina de renome
A história é trágica e podia ter sido evitada. Mas ninguém interveio a tempo. Ninguém procurou ajuda externa. Ninguém pensou em realizar uma mediação de conflitos.
Há sete anos ainda estava tudo em ordem. Numa vila, o tio tinha uma loja de motas que era conhecida em toda a região pela grande oferta de Vespas e pelo excelente trabalho de manutenção e reparação. Na oficina da loja trabalhavam o tio, que em jovem era piloto de motocross, e o seu sobrinho. O clima entre eles era fantástico. Os clientes sentiam este entusiasmo e a dedicação e a loja andava de vento em popa. Com o acidente terrível do tio, tudo mudou. Ficou em coma durante semanas e meses no hospital, enquanto a mulher geria a loja e o sobrinho assegurava a oficina. Foi muito difícil, com imenso esforço, mas os dois conseguiram manter o negócio. No entanto, pouco a pouco o jovem sentia-se cada vez mais explorado, uma sensação alimentada dia após dia pelo pai dele, o irmão mais novo do doente que tinha contas abertas. A insatisfação do jovem persistiu mesmo depois da volta do tio, todo debilitado, depressivo e incapaz de trabalhar na oficina, mas estava sempre na loja a carregar a sua frustração no sobrinho que fazia nada bem. O sobrinho não se sentia reconhecido e vingava-se em não demostrar compreensão pela situação do tio. O clima ficou tóxico, a qualidade de trabalho sofreu e a loja começou a perder clientes até ao dia em que o sobrinho, com a ajuda do pai, abriu a guerra aberta: inaugurou, na mesma vila, a sua própria loja de motas, especializada em Vespas e com oficina. Esta decisão foi a sentença de morte das duas lojas.
As emoções tornam as pessoas cegas. O ódio, a vaidade ferida, a falta de reconhecimento, a falta de compreensão, a frustração, a inveja, a sensação de exploração – nesta história há de tudo. A família podia ter evitado a tragédia a tempo. Como? Podiam ter realizado uma mediação de conflitos que é confidencial, imparcial e, a qualquer momento, de livre vontade.
Numa mediação de conflitos, o mediador ou a mediadora consegue puxar as emoções, inclusive as mais profundas e escondidas, à superfície para as pessoas em conflito ganharem uma nova visão. Ao separar os sentimentos dos objetivos, a mediadora ou o mediador prepara o terreno para a resolução do conflito. Quem encontra a solução, o compromisso, a nova maneira de conviver são as próprias pessoas em conflito e é por isso que se sentem motivadas e comprometidas a pôr o acordo da mediação em prática. Assim, saem todas as pessoas a ganhar, enquanto nesta tragédia familiar ficaram todas a perder.