O antigo guarda-redes da seleção alemã, Jens Lehmann, foi condenado a pagar 420 mil euros ao seu vizinho Walter Winkelmann. Em vez de ultrapassarem o seu profundo conflito numa mediação, os dois investiram energia e dinheiro num processo em tribunal. Silke Buss conta o curioso conflito no atual artigo da sua coluna mensal “Prevenção e Mediação de Conflitos”. O texto saiu na Vida Económica de 31 de outubro de 2024.

Ler artigo online
Download artigo em pdf
Website da mediadora Silke Buss

Prevenção e Mediação de Conflitos
Motosserra contra maus vizinhos? Na mediação há ferramentas mais eficazes

Não é só o presidente argentino que resolve problemas com uma motosserra. O antigo guarda-redes da seleção alemã, Jens Lehmann, enervou-se de tal maneira que pegou numa, invadiu a garagem recém-construída do vizinho e começou a serrar uma viga do teto. O vídeo de vigilância gravou a cena e o Tribunal de Starnberg, na Baviera, condenou o ex-futebolista de 54 anos a pagar 420 mil euros por danos à propriedade, insultos e tentativa de fraude.

Durante o processo em dezembro de 2023, o vizinho Walter Winkelmann, de 92 anos, descreveu em detalhe o longo conflito com o “querido Senhor Lehmann” na sala de audiências, de acordo com a Legal Tribune Online (LTO). “É preciso ver as coisas pelo lado cómico”, disse Walter Winkelmann, segundo a LTO, e riu-se. A seguir, contou como o genro lhe telefonou a 25 de julho de 2022 porque a câmara de vigilância da casa, no Lago de Starnberg, lhe tinha enviado imagens para o telemóvel que mostravam Jens Lehmann com uma motosserra na mão. Winkelmann presumiu que o vizinho tivesse subido um andaime para desligar o painel solar que alimentava a câmara. “Mas ainda tinha um certo tempo de autonomia”, acrescenta, “e foi esse o azar em que ele, infelizmente, não pensou.” Antes disso, terá havido um longo conflito de vizinhança, sobretudo por causa da construção da nova garagem. Walter Winkelmann declarou que tinha instalado a câmara por ter havido três ataques à garagem por parte de desconhecidos. Durante a audição, recordou outro episódio com o vizinho: o ex-guarda-redes terá abatido uma “bétula jovem” na propriedade de Winkelmann. “A pedido do vizinho”, alegou Lehmann. Winkelmann contestou, estimou os danos em 1 500 euros e ofereceu os restos da bétula a Lehmann para a lareira.

Na declaração de defesa, o advogado de Lehmann sublinhou que os vizinhos já tinham chegado a um acordo civil com o pagamento de 60 mil euros de Lehmann a Winkelmann e que a disputa de vizinhança estava resolvida. Será? Os comentários sarcásticos de Winkelmann e as declarações de Lehmann fazem presumir o contrário. O ex-futebolista alegou: “Só entrei na garagem para ver o que ele lá estava a fazer.” E a motosserra? “Ainda a tinha na mão”, já que tinha acabado de aparar uma sebe a pedido do vizinho.

Tal como este, a grande maioria dos conflitos de vizinhança são extremamente emocionais. Por isso, o tribunal só pode resolver a injustiça factual e restabelecer paz jurídica, mas não criar paz geral. A frustração emocional continua, sobretudo na parte que perdeu em tribunal, e o conflito ferve em lume brando como um vulcão até à próxima erupção. O melhor método para resolver de vez um conflito de vizinhança é a mediação de conflitos. Na mediação, as partes não estão a trabalhar umas contra as outras, mas sim umas com as outras para criar, em conjunto, um futuro pacífico lado a lado. Durante o procedimento da mediação, vão ouvir e compreender, a nível racional, as motivações individuais do vizinho e/ou da vizinha, já que as necessidades são explicadas, graças à mediadora ou ao mediador, sem sarcasmo.