É possível prevenir conflitos nas Festas? Todos não, mas os que dependem de nós, podemos evitar. Para isso, é preciso saber como se desenvolve um conflito. Eis o tema do artigo de Silke Buss que saiu no dia 25 de novembro de 2022 na Vida Económica. É o 17.º artigo da sua coluna “Prevenção e Mediação de conflitos”.
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No Natal, tudo tem de ser perfeito: as refeições festivas, a decoração, as prendas e toda a família bem-disposta e em plena harmonia. Foi assim que aprendemos a tradição. Precisamente este ideal, que tem pouco a ver com a realidade, causa stress e tensão, aumenta a emoção e provoca conflitos. As expetativas são tão altas que só podem ser desapontadas.
O que fazer? Podemos preparar-nos mentalmente para evitar os conflitos que dependem de nós. Temos sempre a opção de entrar num conflito ou não. Para isso, é preciso saber como se desenvolve um conflito e ter estes mecanismos bem presentes em situações críticas. De forma simplificada, podemos dizer que um conflito surge quando alguém, durante uma conversa, sente o seu ego ferido ou ameaçado. A reação instintiva é querer equilibrar “essa injustiça sentida”. É aqui mesmo que está o momento de liberdade, precisamente entre a emoção e a reação. É o tal momento decisivo para iniciar um conflito ou para impedir que ele aconteça. Com o conhecimento de que a nossa sensação é a consequência da nossa interpretação, temos o poder sobre o automatismo e a liberdade de escolher uma reação diferente. Interpretei uma afirmação como ofensa. Será que interpretei bem, a intenção foi mesmo ofender-me? Quais as outras interpretações possíveis? Conscientes do momento, podemos aproveitá-lo para, mentalmente, relaxar, relativizar ou distanciar-nos. E se chegarmos à conclusão que a afirmação foi mesmo ofensiva, podemos ter bom senso e adiar o debate para outra altura, já que é Natal e que estamos num grupo e a dinâmica de grupo é algo incontrolável com potencial explosivo.
Há várias técnicas de comunicação que nos ajudam em situações críticas. Podemos repetir a frase que nos irritou de forma lenta e expressiva. Por exemplo: “Eu … estou … sempre … a exagerar … com os doces.” Pausa. Ao ouvir a sua afirmação absoluta, muitas pessoas querem relativizá-la. “Não, sempre, mas muitas vezes, algumas vezes…” e a afirmação perde o seu poder explosivo e o valor emocional para nós. Outra técnica é fazer perguntas. Em vez de interpretar, podemos perguntar, por exemplo, “O que queres dizer com isso?” Podemos utilizar as perguntas como Zoom e ampliar o foco ou reduzi-lo e levar o debate aos detalhes. Outra opção é mudar de assunto com uma pergunta positiva e bem colocada.
No entanto, se houver situações desagradáveis nas Festas, como ofensas ou acusações diretas ou subtis, não é saudável nem para a relação nem para a nossa saúde engolir sapos. Procure uma conversa esclarecedora num momento próximo. Noutro caso, pode ser o germe a partir do qual se desenvolve um verdadeiro conflito que só pode ser resolvido com a ajuda de profissionais numa mediação de conflitos.
Boas Festas!