Vida Económica – Coluna de Silke Buss A síndrome “Eu tenho sempre razão” e o efeito de cura da mediação

O 18.º artigo da coluna “Prevenção e Mediação de conflitos” de Silke Buss dedica-se à resolução de conflitos particulares através da mediação. Saiu na Vida Económica de 30 de dezembro de 2022. A fonte de inspiração desta vez é uma conversa num evento de Natal.

Ler artigo online
Download artigo em pdf
Website da mediadora Silke Buss

«Sim, a mediação também se aplica a nível particular, para resolver heranças, por exemplo», respondi a um senhor no welcome drink de um evento de Natal e, para reforçar a ideia, contei-lhe: «Um colega do meu curso até consegue viver disso, e bem. Só aceita conflitos entre herdeiros e herdeiras.» Inspirado, o senhor lembra-se de um caso na família: «O meu cunhado precisava de uma mediação, pensa que agora tem direito a tudo só porque ele e a mulher ficaram com a mãe em casa durante os últimos meses. Ele não está a ver bem as coisas.» Respondo que uma mediação individual é possível quando uma pessoa quer resolver um conflito interno, mas que, neste caso, me parecia um conflito entre o senhor e o cunhado e eventualmente mais familiares. Com as emoções à flor da pele, o senhor nega veementemente: «O problema está unicamente no meu cunhado. Ele é teimoso, fechado e tem sempre razão.» «Será que o seu cunhado tem a mesma imagem de si?», questiono.

A herança é um conflito clássico nas famílias. Todas as emoções suprimidas ao longo dos anos, por vezes décadas, vêm de repente à superfície. Finalmente, chegou a altura de lavar toda a roupa suja, de dizer na cara o que sempre achou e de corrigir as injustiças que sentiu. Vale tudo!

Interessante é que o valor monetário é absolutamente secundário, mesmo nos casos em que um dos herdeiros está em dificuldades financeiras. Também aqui se aplica: receber dinheiro ou bens materiais é receber uma recompensa pelas injustiças emocionais sentidas.

Porque é que a mediação é o método ideal para conflitos de herança? Porque é o único método que consegue trazer mesmo paz à família. A mediação reúne as pessoas em conflito e a estrutura e a condução da mediadora ou do mediador permitem-lhes elaborar uma nova base para o convívio familiar no futuro. Na mediação ganham uma nova visão do passado, conseguem distanciar-se e, assim, atenuar as emoções negativas e desenvolver positivas. Conseguem refletir sobre as próprias crenças e colocá-las em causa. Todo o foco da mediação, que é confidencial e sempre voluntária (cada pessoa pode terminar a sua participação a qualquer momento), está em conseguir uma solução que seja benéfica para todas as partes envolvidas. Pessoas mais teimosas, mais resistentes à mudança e a fazer perspetiva, como o senhor do evento de Natal, iam compreender que de facto a razão não está exclusivamente do lado delas. Factos são mensuráveis. Opiniões e emoções são as nossas reações a esses factos. Com o coaching na mediação, o senhor ia ganhar mais flexibilidade na sua interpretação. Consciente dos seus padrões e crenças, poderia escolher entre várias opções. Tornar-se-ia uma pessoa mais autodeterminada e – quem sabe – um cunhado, marido, pai, filho, genro, tio, sobrinho, primo e colega de trabalho mais aberto e afável.