Os debates à mesa em casa são um excelente treino. As crianças aprendem a argumentar, a ouvir e a distinguir factos de interpretações. Esta cultura de debate permite-lhes estabelecer relações humanas saudáveis, baseadas em respeito e comunicação franca e sincera. Eis o tema do 15.º artigo da coluna “Prevenção e Mediação de Conflitos” de Silke Buss na Vida Económica. Saiu na edição de 30 de setembro 2022.


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Coluna sobre Mediação de Conflitos – n.º 15
Por Silke Buss, Mediadora de Conflitos, Especialista em Comunicação

Prevenção e Mediação de conflitos
A cultura de debate previne conflitos e maximiza resultados

Lembro-me vivamente dos debates à mesa, com o meu pai, a minha mãe e a minha irmã, desde muito cedo. Na sala de jantar, sem televisão, conversávamos e manifestávamos opiniões sobre assuntos familiares, políticos, económicos, sociais e culturais. De talheres já pousados, as conversas prolongavam-se por mais alguns quartos de hora. Nós, as filhas, em crianças e jovens, sentíamo-nos envolvidas, respeitadas e reconhecidas. Graças a esse treino diário aprendemos muito cedo a argumentar corretamente, ou seja, a defender a nossa posição com base em factos e a respeitar posições diferentes. Aprendemos a distinguir factos de interpretações. Aprendemos a duvidar, a pôr em causa, a refletir e a recolher mais informação antes de formar a nossa opinião. E mais: aprendemos a encontrar compromissos. Ataques pessoais? Nem pensar! Levar outro ponto de vista a peito? Para quê?

Crescer numa família com cultura de debate é uma grande vantagem. Permite estabelecer relações humanas saudáveis, baseadas em respeito e comunicação franca e sincera. Pessoas sem essa (ou outra) escola de debate têm mais dificuldades em ter conversas factuais por não saber distinguir factos de interpretações, opiniões e emoções. Assim, costumam ter mais dificuldades em respeitar um ponto de vista diferente ou um sentimento, sem ter a perceção de que emoções não são negociáveis, mas uma realidade individual. No fundo, partem do princípio que os significados que atribuem estão certos e são reais para todas ou a maioria das pessoas. Como estão pouco treinadas em questionar, refletir, recolher informação e debater, tendem a levar as coisas a um nível pessoal e costumam ter pouca prática na procura do menor denominador comum para encontrar e estabelecer um compromisso. Também não sabem como evitar conflitos ou apaziguar situações de tensão. Tendem a fugir a confrontos esclarecedores e, em alguns casos, escolhem vingar-se silenciosamente. Um clássico aqui é suprimir informações para prejudicar o sucesso do ou da colega. Espírito de equipa? Só se todos os elementos tiverem a mesma opinião – uma falsa harmonia que se transforma numa bomba-relógio.

Felizmente, debater com respeito aprende-se a qualquer altura da vida. É como estudar uma língua estrangeira. Há vocabulário, gramática e estilo. É preciso saber a teoria e depois praticar de forma consequente. Formar os colaboradores e as colaboradoras em comunicação significa investir num excelente workflow e numa colaboração eficaz. Significa também prevenir perdas de produtividade e de qualidade como resultado de conflitos, quer abertos, quer escondidos. É um investimento no bem-estar e, assim, na motivação da equipa. Mais: Numa cultura de debate nascem mais e melhores ideias, há uma forte orientação para a inovação e o contributo de todos e todas para a melhoria contínua é um efeito secundário natural. Sabia que conflitos entre colegas levam a uma perda de produtividade de 20 a 30 por cento?

Como as línguas, é muito mais fácil aprender as várias técnicas de comunicação e debate em criança. Consciente disso e entusiasta em debates à mesa, mantive a tradição familiar em debater assuntos familiares, políticos, económicos e socioculturais com o meu marido, filhas e filho diariamente na sala de jantar, com respeito e sem televisão.