Vida Judiciaria

Uma particularidade da Mediação de Conflitos é que contorna o conflito como uma rocha no mar para chegar a bom porto. É por isso que tem sucesso. Parece-lhe paradoxo? Leia o artigo atual da coluna mensal de Silke Buss sobre Prevenção e Mediação de Conflitos (Vida Económica 04.02.2022)

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Coluna sobre Mediação de Conflitos – n.º 7
Por Silke Buss, Mediadora de Conflitos, Especialista em Comunicação

Prevenção e Mediação de conflitos
A Mediação tem sucesso porque deixa o conflito de lado

Com o tendão de Aquiles recuperado a 80 por cento, voltei ao circuito nacional de ténis em janeiro. Joguei um torneio no Estoril e estava tudo maravilhoso: Tinham vindo jogadores e jogadoras do norte, do centro e do sul do país e houve boas conversas entre os jogos, como sempre. Desta vez, tive um diálogo único: um amigo meu contou-me a sua história de vida. Era ainda um jovem pai quando lhe foi diagnosticado um cancro com uma esperança de vida até cinco anos. Nessa altura, recebeu um convite para chefiar um departamento de uma grande empresa noutra cidade. Que convite desafiante, que oportunidade! Mas ainda valia a pena incomodar a mulher e os filhos com a mudança? O meu amigo decidiu que sim e mergulhou com entusiasmo na nova função. E o cancro? Foi desaparecendo. A última quimioterapia realizou-se há décadas. Presumo que, ao ler, esteja agora a pensar: Linda história, mas o que tem a ver com a mediação? Tudo!

Enquanto outros processos, por exemplo jurídicos, se concentram no conflito, a mediação faz exatamente o contrário. Tal como o meu amigo se focou no seu novo desafio e não na sua doença, a mediação está concentrada no futuro e não no conflito. O conflito é abordado no início de uma mediação, claro que sim, é o ponto de partida e faz parte do trabalho, mas rapidamente levamos as pessoas numa mediação para além do que aconteceu e causou a divergência. Contornamos o conflito como uma rocha no mar para chegar a bom porto. Na mediação, navegamos rumo ao futuro. Como as pessoas envolvidas gostariam de conviver no futuro? Que expectativas têm mutuamente? O que estão dispostas a dar, a mudar, a investir? Ao longo da mediação, ganham clareza sobre as suas vontades e necessidades e conseguem redefinir a sua relação. Assim, criam a base para um novo começo.

Graças a esta orientação futura, a mediação consegue chegar muito mais longe do que outros métodos de resolução. No fim, ao assinar o acordo de mediação, as pessoas costumam sentir paz geral e não apenas paz jurídica. Isto facilita-lhes imenso o convívio futuro porque já têm à mão um conceito para o relacionamento. Já está tudo pensado, falado e definido em conjunto e estipulado no acordo de forma detalhada e mensurável, inclusive medidas em caso de incumprimento. E depois vão mesmo pôr em prática o acordo? A probabilidade é altíssima e é fácil de entender porquê. Como as próprias pessoas envolvidas criam uma solução para o seu conflito, estão motivadas para realizar o futuro sonhado e fazer tudo para evitar a recaída num conflito doloroso. A energia positiva é impressionante no momento da assinatura do acordo: A vontade de “fazer tudo bem a partir de agora” enche toda a sala. O alívio e a confiança são enormes. Esta satisfação geral só é possível porque numa mediação todas as pessoas envolvidas saem a ganhar. Não há sentenças, não há punição, ninguém perde um litígio.

Tal como aconteceu com o meu amigo, que abraçou o novo desafio a cem por cento, a mediação exige dedicação e a forte vontade de querer, de uma vez por todas, resolver a situação. Felizmente tem uma parceira perita. A mediadora navega pelas cinco fases da mediação e assegura o respeito pelos princípios – com rumo ao futuro, claro. Construir um futuro luminoso inspira e motiva. Focar-se no positivo gera tanta energia que pode levar à auto cura.