No âmbito da guerra na Ucrânia fala-se muito em mediação. Qualquer primeiro-ministro parece ser um potencial mediador de conflitos. Será talento nato ou formação obrigatória para o cargo?
A questão é outra. Eis o tema do artigo atual de Silke Buss na Vida Económica de 25.03.2022.

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Coluna sobre Mediação de Conflitos – n.º 9
Por Silke Buss, Mediadora de Conflitos, Especialista em Comunicação

Prevenção e Mediação de conflitos
Bennett, Çavuşoglu e Papa revelam-se mediadores de conflitos?

“Mediação turca não fez avançar diálogo entre Rússia e Ucrânia” diz uma manchete do Expresso. “Ministro ucraniano agradece ‘esforços de mediação’ de Israel” reporta a SIC. E o Público anuncia: “Papa oferece a mediação da Santa Sé”. Desde a guerra russa na Ucrânia, escreve-se e fala-se muito sobre mediação. Qualquer primeiro-ministro ou chefe de diplomacia parece ser um potencial mediador de conflitos. Será talento nato ou formação obrigatória para o cargo?

A questão é outra. Quando os meios de comunicação falam em “mediação”, estão a referir-se a uma conciliação ou negociação, mas não a uma mediação de conflitos, como a lei a define, com princípios e estrutura determinados. O problema está no termo “mediação” que faz parte do vocabulário desde sempre e raramente se refere à “mediação” como método de resolução de conflitos fora dos tribunais que começou a ser mais conhecida desde a publicação da lei de mediação em 2013. Quando se fala em mediador, as pessoas pensam mais facilmente num agente imobiliário ou de seguros do que num mediador de conflitos. Para complicar ainda mais: O papel do mediador de conflitos é bem diferente dos mediadores imobiliários ou de seguros. Ele não sugere a melhor solução nem tenta convencer ninguém. A sua função é outra: Assegura, como elemento imparcial da mediação de conflitos, o respeito pelos sete princípios (voluntariedade, confidencialidade, igualdade e imparcialidade, competência e responsabilidade, independência e executoriedade) e conduz pelas cinco fases da mediação. Com as suas técnicas de comunicação, estimula a reflexão e reinterpretação, amplia a visão e abre caminho para que as próprias pessoas em conflito consigam distanciar-se do conflito, focar-se no futuro e encontrar uma solução com a qual todas podem viver bem no futuro.

Esta característica, de serem as próprias pessoas a resolver o seu conflito, é única na mediação e é por isso que a mediação é considerada o método mais sustentável de todos os métodos extrajudiciais. Outro ponto fortíssimo é o facto de serem puxados para a superfície os verdadeiros objetivos, necessidades, desejos, medos e preocupações. Desta forma, a relação recebe uma nova base, uma base sólida e propícia, uma base criada e elaborada pelas pessoas em conflito durante a mediação com a ajuda do mediador. O mediador de conflitos não exprime a sua opinião, mantém-se neutro, também em relação à solução encontrada.

Na mediação a que os media se referem, o papel do mediador é outro. Mais correto seria chamar-lhe conciliador. O conciliador tem um papel ativo na procura de uma solução. Faz sugestões, negoceia, avalia e comenta. Contribui com a sua opinião e o seu ponto de vista para as pessoas em conflito chegarem a acordo. No caso da guerra na Ucrânia pode ser – esperemos que seja – um método viável, uma vez que a mediação esgota a sua capacidade de intervenção em níveis da escala considerados destrutivos, onde ambas as partes ficam a perder – são os níveis 7 a 9, segundo a teoria da escalada do conflito de Friedrich Glasl. Uma guerra é nível 9. Esperemos que se encontre uma personalidade que seja uma forte conciliadora para restabelecer a paz.