Já saíram mais dois artigos da coluna “Prevenção e Mediação de Conflitos” de Silke Buss na Vida Económica (suplemento Vida Judiciária):
Mudança de geração – solo fértil para cultivar conflitos (26/11/2021)
Festas do Amor e da Paz e dos conflitos familiares (31/12/2021)

Prevenção e Mediação de conflitos
Mudança de geração – solo fértil para cultivar conflitos

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Vestida a rigor, portátil debaixo do braço e passo determinado – é assim que a sobrinha entra no seu novo escritório. Com o MBA no bolso e a quota maioritária recebida pelos avós, veio para dinamizar e modernizar a empresa, até ao momento gerida pelos tios.

O casal, surpreendido com a decisão dos avós, recebeu-a de braços abertos e viu na formação e juventude dela uma grande mais-valia para o futuro da empresa. A sobrinha encarava os tios como parceiros valiosos pela longa experiência no negócio. Iniciaram a colaboração com o foco na comunicação aberta e na troca de impressões, com reuniões diárias e uma excelente atmosfera de trabalho. Motivadíssimos e satisfeitos no trabalho, desenvolveram em conjunto a estratégia do futuro.

Ou não foi bem assim? Na realidade, foi um salto para água gelada. Os tios viam a sobrinha como intrusa e trataram-na como tal. O que poderia ela saber do negócio, tão novinha que era, com muita teoria, mas sem conhecer o mercado? A sobrinha via os tios como carga, como empresários antiquados com conhecimentos ultrapassados. Devido aos preconceitos mútuos, não havia diálogo nem reuniões nem estratégia comum. Não havia motivação nem satisfação no trabalho. A colaboração estava limitada ao inevitável.

Foi mesmo na última que conseguiram dar a volta. A teimosia era tal que os três foram aguentando dia após dia, semana após semana, mês após mês o péssimo clima de trabalho. Não demorou muito até o conflito pegar fogo e envolver cada vez mais elementos da família. Só quando a má gestão começou a refletir-se gravemente nos resultados, a sobrinha e os tios decidiram procurar ajuda profissional.

A mediação de conflitos é o melhor método para resolver conflitos entre gerações porque fomenta o diálogo e a compreensão. A mediadora ou o mediador ajuda as gerações a compreenderem e a respeitarem-se: Com diferentes técnicas de comunicação consegue tornar neutros os depoimentos das pessoas em conflito e permite assim uma reinterpretação do sucedido, uma nova postura e maior abertura. Esta abertura permite que as pessoas envolvidas definam como querem conviver no futuro. Comprometem-se no acordo de mediação com pontos mesuráveis.

A mudança de gerações em empresas é um solo fértil para cultivar conflitos. Melhor do que uma mediação é prevenir e convidar profissionais de comunicação para acompanharem o processo: para incentivarem, criarem estratégias e treinarem técnicas de comunicação e, assim, tornarem possível e produtivo o diálogo vivo entre forças conservadoras e progressivas.


Prevenção e Mediação de conflitos
Festas do Amor e da Paz e dos conflitos familiares

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Discussões nas Festas? Um clássico! Corre mal, mais uma vez e apesar de termos dado os briefings habituais aos familiares mais críticos para evitar temas irritantes, do género “promete não falar sobre a religião”, “não abordes a orientação sexual do tio” ou “evita assuntos políticos, por favor”. Tensões familiares parecem programadas face aos vários fatores propícios para provocar mau ambiente: muito tempo, muita gente, pouco espaço, bebidas alcoólicas. São de tudo inevitáveis? Alguns conflitos sim, outros não. Os conflitos profundos e entranhados são uma bomba relógio, podem implodir a qualquer altura do ano e raras vezes se resolvem sem mediação. Aqui não há nada a fazer nem a prevenir e até é bom quando estes conflitos finalmente desbravam caminho para poderem ser resolvidos. Dediquemo-nos então aos conflitos ligeiros e espontâneos.

Como evitar conflitos ligeiros? Aqui a prevenção passa por duas vertentes, a prática e a teórica. Primeiro, as dicas práticas. Jantar de Natal: dividir tarefas e partilhar a responsabilidade pelo sucesso do jantar. Convívio: flexibilizar e incluir “escapes” como passeios, atividades ao ar livre e momentos individuais de descanso. Prendas: combinar a quantidade e eventualmente valores. Convites: comunicar que a participação é livre e que recusas são bem aceites.

A teoria é igualmente importante. Sabe como surge um conflito? O conhecimento dos mecanismos permite matar um conflito à nascença. De forma simplificada, podemos dizer que um conflito surge quando alguém, durante uma conversa, sente o seu ego ferido ou ameaçado. A reação natural é querer equilibrar os pratos da balança. É aqui mesmo que está o momento de liberdade, precisamente entre a emoção e a reação. É o tal momento decisivo para iniciar um conflito ou para impedir que ele aconteça. Com o conhecimento de que a nossa sensação é a consequência da nossa interpretação, temos o poder sobre o automatismo e a liberdade de escolher uma reação diferente. Interpretei uma afirmação como ofensa. Será que interpretei bem, a intenção foi mesmo ofender-me? Quais as outras interpretações possíveis? Conscientes do momento, podemos aproveitá-lo para, mentalmente, relaxar, relativizar ou distanciar-nos. E se chegarmos à conclusão que a afirmação foi mesmo ofensiva, podemos ter bom senso e adiar a discussão para outra altura, já que é Natal e que estamos num grupo e a dinâmica de grupo é algo incontrolável com potencial explosivo.

Outra consciência importante é a dos nossos vários papéis familiares. Eu, por exemplo, tenho sete: Sou mãe, filha, mulher, prima, nora, tia e cunhada. Cada papel tem ancorados vários padrões cuja consciência faz com que possamos decidir sobre os nossos atos e evitar reações automatizadas. Assim, uma excelente preparação é refletir sobre os papéis e os respetivos desafios.

E se afinal, depois de tomar medidas preventivas e refletir sobre o desencadeamento de conflitos e os papéis, acontecerem discussões na mesma? Respire fundo! Fez tudo o que estava ao seu alcance.

Boas Festas!